Fui uma criança criada muito próxima as minhas avós materna e paterna. Cada uma com o seu estilo se fazia presente em minha vida, com cada uma aprendi lições que carrego na minha memória afetiva e sei que será para toda a minha vida.
Minha avó materna, Dona Laurita, era empreendedora, estava a frente do seu tempo apesar de conservar características que estavam impregnadas na sua essência como, costurar as nossas roupas e fantasias. Foi dela a primeira vez que ouvi: “Tenho agora 50 anos, posso e vou fazer e falar o que quiser”. Às vezes tenho a nítida sensação que a “Mulher de 50 pode…” foi um presente enviado por ela quando fiz 50 anos, para dar continuidade as suas ideias.
Já minha avó paterna, Dona Delmira, mãe de dezesseis filhos e que curiosamente conseguiu colocar os dezesseis nomes começando com a letra D, um dia perguntei a minha mãe se o meu nome tinha a ver com essa tradição, mas ela respondeu que não, que foi em homenagem a uma atriz francesa. Dona Delmira, era mais conservadora, em sua casa tinha regras muito claras de comportamento, era mais enérgica, mas da sua maneira muito atenciosa e carinhosa. Lembro-me de almoços deliciosos regados a uvas que eram colhidas da sua própria parreira e dos piques- esconde com os muitos primos no pomar atrás da casa.
Nunca me imaginei Avó. Acho que no fundo tinha medo desse título tão poderoso. Quando recebi a notícia que ia ser avó, fiquei extasiada, insegura, inspirada, momentaneamente preocupada e feliz, muito feliz. Todos esses sentimentos misturados ao mesmo tempo nos três momentos diferentes da minha vida. Iolanda, foi a primeira neta, entrou no meu coração já com cinco anos e veio para me ensinar a ser avó, me preparar para a chegada da Violeta e Amora.
Foram esses sentimentos aliado a uma visão que tive em um curso do projeto Alexandra Solnado (www.alexandrasolnado.com.br), que me levaram a tomar a decisão de abortar um projeto pessoal e voltar ao Brasil. Um dia, em um dos exercícios, minha avó Laurita apareceu sorrindo prá mim, foi tão real e tão inesperado, claramente uma confirmação de que eu estava preparada, que podia ir em frente do meu jeito, que estava tudo certo. Imediatamente tive a certeza de que queria ficar ao lado delas custasse o que custasse, principalmente em sua primeira infância.
Encarar esse desafio não é simples, pois como ser mãe de primeira viagem, ser avó de primeira viagem em um mundo cheio de “especialistas” requer muito mais cuidado e cautela, os filhos crescem, viram “especialistas” também e com a sua própria visão sobre o que é educação. Ser avó nesse século com tanta informação e tantos “se nãos” acaba por nos colocar em uma espécie de tribunal onde somos avaliadas pela forma como exercemos o nosso amor.
Existem avós para todos os gostos. Avós que são aposentadas e ajudam seus filhos a criarem seus filhos, com uma presença constante a ponto muitas vezes dos netos passarem mais tempo com elas do que com os pais. Essas avós interferem diretamente na formação de personalidade da criança, é o porto seguro, é a referencia de vida.
Existe aquela avó que consegue administrar o tempo entre a vida pessoal e a vida com as/os netas/os, participa, viaja, fica de vez quando no fim de semana, dá um vale night, para o casal, mas tem seus limites e por isso a referencia da criança passa pelo aconchego, brincadeiras, as manhas e até mesmo um pouquinho de vontades conseguidas através de pequenas chantagens emocionais. Essas avós estão sempre no banco dos réus… Ouve assim: “Essa criança está assim porque você mima muito, não põe limites, faz todas as vontades…”.
E tem as avós que trabalham e que ainda não podem ter esse tempo, que se desdobram para estar presente, que se enrolam, mas que de algum modo conseguem, mesmo muitas vezes dedicando menos tempo do que gostaria. Essas avós estarão eternamente no banco dos réus não só dos filhos, mas de uma sociedade que ainda julga muito pelos padrões estabelecidos. Essas são verdadeiramente avós do século XXI, estão à margem, pois acabam por suprir a sua falta dando coisas, as coisas que farão com que sejam lembradas já que sua presença não é possível. Mas elas se enganam, não existe certo ou errado, não existe medida para o amor de uma avó, seja ela ausente ou presente integralmente ou parcialmente. Já está mais do que comprovado o quanto a avó é importante na vida das crianças, o quanto essa troca de amor é entendida pela criança, até mesmo quando moram distantes em outra cidade ou outro país.
Quando fui para Portugal e passei um ano, a Violeta não me esqueceu, não esqueceu meu cheiro, minha voz, meu toque. Quando voltei, ela não estranhou, ela simplesmente estava ali, veio no meu colo, me abraçou e chamou “minha vovó”. Tudo estava no mesmo lugar, o nosso amor superou a distancia, ultrapassa qualquer fronteira.
As avós do século XXI tem uma jornada árdua. Aprender a lidar com as novas brincadeiras, os novos interesses das crianças que não são mais jogar amarelinha, rodar um bambolê, andar de bicicleta na praça, jogar bolinha de gude, brincar de pera, uva, maça, dança das cadeiras ou imitar os bichos. A avó do século XXI tem que aprender a usar a tecnologia, tem que saber onde está o desenho preferido no youtube, tem que entender várias palavras em inglês para se comunicar, tem que ter um pouco de grana para ir ao shopping brincar na piscina gigante de bolinha que custa R$25,00 meia hora e que se você passa três minutos porque está louca tentando tirar a criança o valor sobe para R$ 35,00 e se bobear tem que tirar a criança quase no laço, pois ela não quer parar, tem que pensar antes de dizer não, porque terá que explicar o porquê do não e terá que ser convincente, pois ela não vai aceitar qualquer explicação, tem que ter as respostas e aí é melhor ter o Google sempre por perto, pois não dará tempo de consultar nenhum outro especialista.
Portanto aqui vai a minha homenagem as Avós do século XXI e as do século passado, que tenho certeza se desdobraram e se desdobram para serem As mais Influentes mulheres nas vidas de suas netas e netos buscando “sincronizar valores” independentes da época.
Fotos: Acervo Pessoal