Ator franco-brasileiro tem forte relação com a fé.
Fotos: Ana Campbell
Nascido no Rio de Janeiro, Josias Duarte viveu parte de sua vida na França. Lá pode conhecer a diferente cultura e aprimorar conhecimentos. Com a arte, ele busca fazer a diferença na vida das pessoas. Bem humorado, ele bateu um papo exclusivo sobre o ofício do ator, paternidade e desejos futuros.
Quando surgiu o interesse pela atuação? Eu tinha tendência de falar que é quando eu era gerente de uma loja de decoração, mas pesquisando dentro dos meus arquivos emocionais, foi quando eu saí do filme “A Lista De Schindler”. Aos meus 11 anos entendi que existem seres que não são comuns, são mágicos, atletas de emoções, chamados vulgarmente por aí de atores, e esses atores têm o poder de mudar a vida de alguém, o humor, de fazer alguém chorar ou até de dar forças para lutar, me disse “é isso!” Eu quero isso, transformar vidas com o talento que Deus me deu.
Fale um pouco sobre a experiência no exterior. Eu cheguei aos 15 anos em Paris, onde me naturalizei francês aos 18. Minha mãe se casou com um francês e eu a segui. Eu totalmente abracei essa cultura e a fiz minha. Hoje eu me sinto 100% francês e 100% brasileiro. Amo meus dois países e detesto meus dois países, por entender o que poderia melhorar cada um! Tenho um carinho muito particular por Paris, onde me tornei homem. A força cultural, a história desse país foi essencial para minha formação.
Teve dificuldade de adaptação? No começo foi bem difícil: imagina um carioca da gema, rato de praia, todos os dias no mar, se deparar com uma língua desconhecida, pessoas com uma cultura e morse diferente, e o clima… Puts, que clima infeliz! Na França, a galera zoa muito Londres que chove o ano todo, mas em Paris é cinza 9/10 meses por ano e, sinceramente, não ajuda. Meus dois primeiros anos sofri muito com essa adaptação mas tenho certeza hoje com recuo, que foi o melhor que poderia ter me acontecido.
Já pensou em seguir outra profissão? Qual? Já, todas as noites eu desisto de ser ator, mas todas as manhãs eu entendo que é a única coisa que eu consiga fazer, que está em adequação com quem sou! Eu acredito que tenho muita coisa pra dizer, ultimamente eu tenho me dedicado a aprender tudo na área de produção (roteiro, direção, produção) o que tem me ajudado a diversificar, mas onde eu me realizo, onde a criança que sou brilha os olhos, é atuando! Em um palco, em um set!
Eu me lembro no meu segundo ano de formação, era uma quinta-feira, eu saí de casa com um aviso de despejo, e fui ensaiar, voltei como se eu fosse o imperador de Roma (ensaiava Nero, na peça Britannicus de Racine). Se atuar não fosse uma necessidade para mim, eu teria que trabalhar, e murcharia.
Qual o trabalho dos sonhos? Eu tenho uma formação clássica de teatro, coisa que eu amo. A França é um país onde as pessoas vão ao teatro, eu gosto muito de Shakespeare e Racine. No Brasil tem alguns diretores que sou louco para contar uma história, como Padilha, Meirelles, Coimbra, Luz, Breno Silveira entre outros. Mas eu acho que o trabalho dos meus sonhos é sempre o que eu estou fazendo, porque eu acredito que trabalhar nessa profissão é um privilégio. Poder levar uma mensagem, “divertir”, ensinar algo em qualquer lugar do mundo é uma honra, mas num país como o Brasil, toma proporções incríveis.
Tem preferência ou facilidade em trabalhar com cinema, teatro ou televisão? São veículos totalmente diferentes, em cada um, há um prazer enorme. Mas para mim o importante é: fazer com verdade! Viver o instante presente. Eu me preocupo muito com o público, que ele esteja em casa, numa sala escura, ou pertinho de mim, minha única “preocupação” é que eu tire ele da sua realidade. E que ele tenha um retorno do seu investimento, que seja uma reflexão, ou um sorriso.
Como é dirigir e atuar em um espetáculo? Em 2017 eu vivi esse desafio por necessidade de querer contar uma história que eu acho de supra importância na conjuntura atual, junto com Carla Elgert e Camila Lorenzo que acreditaram na minha loucura (sonho) e protagonizaram minha peça D-s, “O Doador de Sonhos”. Na primeira montagem a Carla, num processo criativo de 6 meses, mergulhou comigo nessa história. E a Camila que a substituiu no meio da segunda temporada. Para mim, foi uma das coisas mais gratificantes da minha vida, exaustiva, mas foi maravilhoso o retorno que tive do público. Eu comparo essa experiência com a de ser pai. Atuar é “mole”, hahaha. Escrever, dirigir, produzir, cara isso é louco, você não para de pensar, de querer mudar algo, de mexer aqui ali… Graças a Deus que tive uma ótima equipe para me ajudar. Na primeira temporada André Ramiro foi meu assistente, e na segunda Higor Campagnaro, a quem sou muito grato. E Marina Trindade que me ajudou na produção, na verdade sem a equipe toda, nada disso teria acontecido.
Você tem trabalhos em produções religiosas. Qual é a sua relação com a fé? Como disse há pouco, eu acho uma honra e privilégio trabalhar. Agora fazer isso quando você acredita, não há preço é um retorno incomensurável, porque você leva esperança num mundo caótico. Desde 2001 eu comecei uma quête espiritual, onde eu circulei por diversas religiões, e em 2009 eu enfim deixei Deus me encontrar, porque entendi que Ele me perseguia. Na sua origem, a palavra fé vem de adesão, mas eu prefiro colocar o relacionamento com o divino, como a imagem que se dá na Bíblia, relacionamento homem e mulher, pois eu acredito que nesse namoro que tenho com Deus eu já o entristeci muito, mas tenho me esforçado em fazê-lo feliz. A fé pra mim direciona meu dia-a-dia, e tudo que faço, tudo que sou, ainda quando minha tentativa nesse relacionamento falha. O Eterno é tudo que tenho, Ele é meu único bem.
Sobre o Jamal, como é o personagem? Há identificação pessoal com ele? Jamal é um chefe de tribo, homem forte, macho alfa, e como todo chefe, as vezes é mau compreendido, há quem o ache grosso, ou assustador, mas ele tem que tomar decisões importantes e rápidas, e até hoje tudo ocorreu bem. Jamal tem 3 esposas, e se com uma é difícil, imagine com 3, o cara já merece uma medalha! hahahaha, Seriamente, Jamal foi um personagem difícil pra mim, por conta do pouco tempo de pesquisa que eu tive, graças a Deus eu já tinha um certo conhecimento cultural no qual ele evolui, mas é sempre desafiador parir um novo personagem. Eu tenho muitos amigos maghrebinos (da África do Norte) e isso me traz muitas lembranças, foi com muito carinho que deixei o Jamal me dar presentes vividos e pegar pra si, esse jeitão ríspido do Jamal, é meio que o pai de um amigo.
Fale um pouco sobre a paternidade. Para você, o que é ser pai? Ser pai, foi o melhor presente que Deus me deu! Desde os meus 21 anos eu queria ser pai, sonhava em ter uma família etc, não foi assim que aconteceu, mas num país onde o índice de famílias monoparentais é altsimo, eu mesmo tive essa experiência, não queria isso pro meu filho infelizmente é nossa realidade, e eu tento ao máximo estar presente no dia dia do meu “Duartinho” ou ” francesinho” como meus amigos o chamam.
Meu filho e eu trocamos muitas informações e experiências, e me questiono quem tem ensinado quem, pois fazem dois anos que esse serzinho tem me transformado num ser melhor, ele me ensinou tanta coisa, mas tanta coisa. Com ele por exemplo entendi que temos que respeitar tempo do outro. E que não importa o quão certo você está é como você se expressa que faz a diferença entre outras milhões de perolas que ele me oferta sempre que estamos juntos.
Qual é sua válvula de escape para o estresse que pode rolar no dia a dia? Eu acordo, passo meu dia e durmo conversando com a divindade. Mas fora meu contato “sobrenatural” com Deus. Eu gosto muito de fazer esportes, tento me exercitar diariamente entre musculação, correr, stand up paddle, futebol, skate, bicicleta e outros. Acho muito importante ler diariamente, e consumo o máximo de cultura, pois acho importante abrir o olhar. Mas eu acredito muito no equilíbrio.
Como cuida do corpo e da mente? Medito diariamente ao acordar. Leio bastante. Diariamente eu faço exercícios. O contato com natureza é bem importante pra mim, essencial mesmo diria.
Quais são seus próximos planos? Planejo conquistar o mundo! hehehe. Não sou muito de planejar, eu tenho objetivos: curto, médio e longo prazo, mas eu vivo cada dia, como se fosse o único, pois não sei se estarei aqui amanhã, então vivo hoje o presente do céu.
Ping-Pong
• Nome: Josias Dutra Duarte júnior
• Idade: 36
• Local de nascimento: Rio de Janeiro
• Altura: 1,73
• Apelido: Tive inúmeros mas nenhum ficou por muito tempo.
• Qual é sua maior qualidade? Eu acho que ouvir, dizem por aí, reconhecer seu erro e mudar.
• E seu maior defeito? Antissocial. Mas porque sou tímido, ou melhor, pudico.
• O que você mais aprecia em seus amigos? A presença deles.
• Sua atividade favorita é: Respirar.
• Qual é sua ideia de felicidade? Estar perto de quem amo.
• Quem você gostaria de ser se não fosse você mesmo? Feliz em ter só meus problemas!
• E onde gostaria de viver? No céu.
• Qual é sua viagem preferida? Algum lugar com mar. Noronha talvez, algum lugar na Bahia…
• Qual é sua cor favorita? Branco, azul.
• E qual é sua comida favorita? Sou vegano, então qualquer coisa como já tô feliz! Mas qualquer coisa com batata me seduz, kkkkk.
• Um animal: Águia.
• Quais são seus atores preferidos? Edward Norton, Denzel Washington, Sean Penn, Guillaume Canet, Brad Pitt, Ryan Gosling.
• E seus cantores? Brian Mcknight, Leonardo Gonçalves, Tiago Arrais, Estevão Queiroga.
• O que você mais detesta? Injustiça.
• Que dom você gostaria de possuir? Dar pausa no tempo, ou voltar no tempo.
• Uma mania: Prensar os lábios para me concentrar.
• Um sonho de consumo não realizado: Ter um Oscar.
• Uma lembrança de infância: Na casa do meu avô no Piauí minha mãe me mandou brinquedos muito sofisticados, eu não dei bola e brincava com pedras.
• O que o irrita? A falta de palavra das pessoas.
• O que ou quem é o maior amor de sua vida? Meu filho.
• O que você considera a sua maior conquista? Minha salvação.
• Qual é o seu maior tesouro? A memória de tudo que já vivi!
• Defina-se em uma palavra: Homemança.