Nasci em 1957. De um pai ilhéu, sisudo, e de uma mãe interiorana, risonha e costureira, do lar. Não havia conflitos. Ambos pensavam que estavam nos devidos lugares. Daí passei a assistir à queima dos sutiãs, o movimento hippie e a entrada vigorosa das mulheres na televisão. Nossas grandes cantoras da jovem guarda sempre foram minha inspiração, além da nossa Hebe, claro. Aliás, não é coincidência que ela faça aniversário no Dia Internacional da Mulher. Sempre me encantei com a história de Chiquinha Gonzaga, grande musicista autodidata que fez o maior auê na sua época. Tornou-se presente. Elis, Bethânia, Gal, Martinha, Wanderléia e tantas outras que me faziam sonhar. Mas existia o outro lado das mulheres, as da minha rua que eram feitas para cuidar da família e só. Estamos em 2021 e vivo a evolução de uma era em relação à vida feminina, a nossa vida. Hoje podemos escolher entre ter filhos ou não, entre casar ou não, entre trabalhar fora ou dentro de casa. Em usar sutiã ou não rs. Antes, nos anos 60, a mulher assassinada era esquecida, ou não tinha razão. Hoje as mulheres são assassinadas e são vistas. Tenho esperança de que o índice de assassinatos se torne quase zero. Ainda estamos caminhando para um desfecho positivo de repressão histórica. Estamos chegando lá. Sou otimista em relação a condição de mulher, mas vejo ainda quantas têm que lutar pelo simples fato de ser mulher (assédios, repressões, ausências de fala). Descobri que sou feminista num papo com a minha filha. Ela me disse: “vá olhar no dicionário o que é ser feminista” (porque até então eu pensava que fosse o ato de lutar por uma causa única, destruindo outras causas). Não gosto do “destruir”. Mas acredito que todos temos os mesmos direitos de cidadania. Salários, situações cotidianas em que podemos fazer exatamente o que os homens fazem e vice-versa. O Dia Internacional da Mulher não existiria se a mulher não fosse vítima histórica de uma série de repressões injustas. Estamos caminhando para o melhor e sinto orgulho de ser mulher. Orgulho de nossas fortes mulheres. E viva o Dia Internacional das Mulheres.
1- Como você definiria o empoderamento das mulheres?
Acredito que o mais importante no empoderamento feminino foi ter conquistado o poder, o domínio sobre nós como mulheres. Nesse caminho conseguimos muitas conquistas. Tanta coisa mudou pra melhor do século passado para esse …
2- O que ainda precisa mudar na sociedade?
A visão de que a mulher é culpada de atitudes insanas ainda provocadas por um machismo violento e doente. Veja o tanto de mulheres assassinadas por ciúmes e posse. E ainda se vê gente dizendo: ela não sabia seu lugar… Um absurdo!
3- Qual o valor da mulher na sociedade?
A mulher tem 2001 utilidades e ainda vemos famílias cuja balança em comum pesa mais no trabalho da mulher que é mãe, dona de casa, trabalha fora, traz sustento pra família, não tem feriados e muitas vezes é invisível. Mulher heroína ainda tem muita por aí.
4- Na sua visão, como uma mulher pode se empoderar ainda mais? Em relação ao seu corpo, trabalho e tudo mais.
O mundo muda a cada momento. Acontece em tudo, na tecnologia, ciência, comportamento e mais. A mulher tem ganho espaços que há bem pouco tempo não existiam. É um progresso constante e a tendência é que continue. Com as redes sociais, mulheres transformadoras ajudam outras a se situarem melhor. É uma cadeia alimentar… Não há retrocesso, na minha opinião.