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Miriam Freitas

Surfista de ondas gigantes há cinco anos, Will Santana protagonizou  um dos resgates mais tensos da temporada em Nazaré

Lucas Chumbo

O mar de Nazaré mostrou sua face mais severa em 04/12. Depois de cair ao tentar surfar uma onda monumental, Carlos Burle ficou à mercê da força das séries. Lucas Chumbo foi o primeiro a alcançá-lo de jet ski, mas a violência das ondas virou a moto aquática e colocou ambos em extremo risco. A situação só não se tornou trágica porque Will Santana conseguiu romper a parede de espuma, alcançar os dois e tirá-los da zona de impacto poucos segundos antes de uma nova série fechar.

Will descreve o momento com precisão cirúrgica de atleta experiente: “A única coisa que passava na minha cabeça era que eu não podia errar. Ali, a vida do seu amigo está nas suas mãos. Qualquer decisão errada pode custar a vida dele. Então eu bloqueei tudo e foquei no que precisava ser feito.”

A parte mais crítica ocorreu quando ele tentou pegar Burle pela primeira vez, mas outro jet ski entrou involuntariamente na trajetória e fechou sua linha de resgate. Era uma fração de segundo. O erro ali poderia significar três surfistas engolidos pela série e mais um jet destruído. Will relembra:

“Não consegui pegar ele de primeira. Outro jet entrou na frente e, se eu esperasse um segundo a mais, a onda ia levar todo mundo. Então precisei ter a frieza de ir para o inside, fazer a curva por trás da onda e voltar. Foi uma decisão arriscada, mas necessária para salvar vidas.”

Ao chegar em terra firme, o alívio deu lugar à responsabilidade imediata de prestar os primeiros socorros. Chumbo estava exausto após segurar Burle por um longo período, e a experiência de Will em mergulho e resgate se tornou crucial.

Quando chegamos, percebi que o colete do Burle estava apertando o pescoço dele. A galera estava nervosa, mas eu consegui manter a calma. Desinflei o colete, tirei a borracha e pedi oxigênio. Aos poucos ele foi voltando. Ver um amigo naquele limite mexe com você, mas é aí que o preparo fala mais alto.”

Natural de Aracaju, Will saiu de uma realidade simples, trabalhou como instrutor de surf, economizou cada centavo e se mudou para o Rio antes de consolidar sua trajetória em Nazaré. A determinação que o trouxe até ali também é marcada por episódios extremos, como ele relembra:

Ano passado, durante uma competição, meu piloto tentou me resgatar de frente para a pedra. A gente foi engolido junto com o jet. Ele pulou, eu fiquei em cima. Só não morri porque realmente não era minha hora. Aquilo foi um milagre.”

E não foi o único acontecimento que marcou sua carreira: “Perdi um amigo brasileiro aqui em Nazaré. A gente tentou reanimar, mas não conseguiu. Foi devastador. Essas coisas te mudam, te fazem respeitar ainda mais o mar.”

Will vive o surf de ondas gigantes de forma integral há cinco anos, dedicando-se diariamente a treinos, leitura de mar, mergulho e preparação física e mental. O resgate de ontem apenas reforça essa trajetória construída com disciplina e humildade.

Para mim, representa manter a humildade e o respeito pelo mar. Ao mesmo tempo, mostra que eu estou preparado para fazer meu trabalho. A gente sente medo, claro, mas também sabe que treinou a vida inteira para esse momento.”

Da parede de espuma ao solo firme de Nazaré, Will Santana reafirmou não apenas sua capacidade técnica, mas sua essência, seu caráter e sua entrega ao esporte. O resgate não foi obra do acaso, mas resultado de anos de preparo e de um atleta que honra o mar e os parceiros com quem divide cada linha do horizonte.

 

Fotos- divulgação 

Por: Míriam Freitas 

@mifreitas.oficial