O que um ex-banqueiro e uma ex-paquita têm em comum? Muita gente poderia responder, nada. Afinal, em universos tão distantes e diferentes como estes, o que os uniria? Eduardo Moreira e Juliana Baroni não contrariaram, à primeira vista, a máxima que diz que os opostos se atraem. Até descobrirem que tinham um objetivo em comum: repensar o mundo e torná-lo melhor. Uma utopia destas que vemos em sagas românticas. Não para o casal. O que ficou ainda mais evidente há uma semana.
Eduardo, o Dudu, é o criador do movimento “Somos 70%”, que nasceu numa hashtag que viralizou entre brasileiros anônimos e famosos. Juliana estava ao lado do marido quando viu tudo acontecer. Assim é desde que ficaram juntos pela primeira vez, há oito anos. “De repente, explodiu. Nasceu de um insight que tive após a pesquisa de aprovaçâo do atual governo. Se ele tem 30%, existem outros 70% descontentes”, conta ele.
Juliana fez sua parte enviando a seus contatos o que estava sendo proposto. Até Xuxa se posicionar. “Não sei se tive influência. Mas mandei e, quando vi, ela tinha postado. Foi a primeira vez que a Xuxa se posicionou politicamente”, diz a atriz.

Os meus, os seus e os nossos
O casal não estava só. Desde março, quando começou o isolamento em São Paulo, onde moram, Juliana e Eduardo decidiram “se mudar” para um sítio que têm no interior do estado. Mas não queriam que eles e a filha, Maria Eduarda, ficassem longe dos outros filhos do economista. “Chamei minha ex-mulher e o marido dela, o filho dele, e meus filhos para fazermos a quarentena juntos. Somos amigos e isso possibilita estarmos juntos e seguros”, justifica Eduardo. “Enquanto as pessoas têm seu gabinete do ódio, somos o gabinete do amor. Me sinto como os Novos Baianos numa comunidade hippie”, Juliana define.
A necessidade de uma “fuga paz e amor” chegou em boa hora. Longe da cidade grande, Eduardo, que vai uma vez por semana a São Paulo, pode dormir e acordar cedo, fazer sua meditação numa casa na árvore, plantar com as crianças e ter suas longas conversas com intelectuais, políticos e artistas com os quais interage através de lives.
Enquanto isso, Juliana faz suas reuniões virtuais de trabalho, cuida da casa e fica de olho no marido. “Eu digo que o Dudu é um obcecado. Às vezes, me pergunto como ele consegue dar conta de tudo que se mete a fazer. Eu não consigo explicar”, admite ela, casada com um engenheiro que é também economista, autor de dez livros, roteirista, dramaturgo, palestrante e empresário.

Casamento salvo com ioga e meditação
É Juliana também que se transforma na voz da consciência de Dudu. “Muitas vezes sou o grilo falante. Digo que meu casamento foi salvo graças ao equilíbrio que aprendemos com ioga e meditação. Passamos um ano fazendo um curso, fizemos um retiro espiritual também. Todos os fins de semana tivemos esse compromisso”, relembra.
A procura por algo mais zen, digamos, veio após as eleições de 2018. Ao declararem seus votos, Juliana e Dudu ficaram expostos aos haters. E ela jamais tinha experimentado algo do nível, ainda mais sendo uma ex-paquita. “De repente, comecei a receber todo tipo de ataque no Instagram. Não vou dizer que não me incomoda. Acho muito triste. Mas não apago os comentários nem entro em embate. Só tento tirar os que contêm muitos palavrões, porque muitas crianças me seguem”, analisa a atriz, que foi protagonista de “Cúmplices de um resgate”, voltada para o público infantil.

Ameaças de morte
Com Eduardo os ataques virtuais foram mais preocupantes. O economista sofreu muitas ameaças de morte. “Diziam que iam sumir comigo. Se eu fosse dar ouvidos a isso… Eu vou e volto a pé do meu trabalho. Todos sabem o meu caminho. Não vou contratar seguranças. Sou uma pessoa muito espiritualizada e acredito que existe uma razão para estar aqui. Se acontecer algo dentro do meu tempo na Terra, eu não posso ir contra isso”, explica.
Juliana não gosta dessa face tão desapegada do marido. “Claro que me preocupo e tento sempre ponderar e fazê-lo pensar sobre as coisas”, diz. “ O que tenho com ela é cumplicidade. Estamos lado a lado em tudo”, ressalva ele.

“Maluco é elogio”
Dudu sabe que não é fácil ser mulher dele. Já casados, o economista teve seis tromboses após uma cirurgia que deu errado. O tempo em que ficou no hospital foi um período de reavaliação. Quando se recuperou, disse a Juliana que precisava conhecer o Brasil de verdade. “Ele me falou que queria ir para um assentamento do MST, uma aldeia indígena, um quilombola e foi! E eu tive medo, claro. Estava tendo uma disputa na aldeia, ele não era de lá. E eu não sabia mesmo o que ia ser. As pessoas me falavam: ‘o Dudu endoidou’”, relata.
“Me chamar de maluco é elogio”, diverte-se Eduardo, um desses indivíduos inquietos, curiosos e buscador. Juliana credita parte disso aos astros: “Ele é aquariano. Está anos luz na nossa frente”.

Ela não quer ser primeira-dama
Eduardo não é so um aquariano. Carioca de Ipanema, flamenguista, fã de artes marciais, tinha tudo para estar hoje, aos 44 anos, nadando em dinheiro, em altos cargos. “Fui criado para ser o melhor em tudo. Meus pais esperavam muito de mim. Eu também. Mas a desigualdade sempre me incomodou. Em todos os níveis”, revela.
Com Juliana, 42 anos, uma ariana cheia de personalidade, corinthiana que canta e dança, não é diferente. “Sempre pensei em caminhos para melhorar a vida das pessoas. Antes, refletia isso dentro da arte, que é onde atuo e conheço. Mas com o Dudu, esse olhar passou a ser macro. Artista no Brasil sempre foi orientado a não falar de assuntos que geram polêmica. Quando fui na contramão disso, foi libertador”, avalia.

Desde que o movimento explodiu, uma pergunta é feita sistematicamente a Eduardo. “Não, não tenho pretensão eleitoral. Política? Sim. Porque tudo no mundo é política”, garante. Ao ouvi-lo, Juliana suspira. “Ai, graças a Deus! Seria bem preocupante para mim se ele quisesse ocupar um cargo público. Não passa pela minha cabeça. Mas com o Dudu nunca dá para dizer nunca”, reflete.



As informações são do Extra.