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Morreu na tarde de domingo, aos 88 anos, a socialite Carmen Mayrink Veiga. Um dos maiores símbolos da elegância no país, Carmen faleceu em casa, no Rio de Janeiro. A cremação será amanhã, terça-feira, no Memorial do Carmo. A filha Antônia Frering, que estava em Nova York, lamentou a perda com uma publicação em suas redes sociais, que mostra apenas uma imagem antiga da mãe com um coração partido na legenda.

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Amiga de Carmen, a designer carioca de acessórios Glorinha Paranaguá, de 87 anos, lamentou a perda da amiga e falou sobre a devoção dela:

– A Carmen era muito carinhosa, sempre presente. Ela marcou uma era, era “A” Carmen Mayrink. Ela tinha muita personalidade, com seu jeito de se vestir, seu cabelo. A conheci ainda solteira, como Carmen Therezinha Solbiati, quando ela morava em São Paulo e eu aqui. Até por conta do nome, ele sempre foi muito devota de Santa Teresinha. Frequentava a igreja na Tijuca.

Natural de Pirajuí, interior de São Paulo, Carmen nasceu em 24 de abril de 1929, em uma tradicional família do Sudeste brasileiro. Filha de Maria de Lourdes de Lacerda Guimarães e Enéas Solbiati, era neta do Barão de Arari e sobrinha-neta do Barão de Araras, pelo lado materno. Seu pai era um rico financista de São Paulo, que foi cônsul honorário do Reino da Itália.

Ela já era frequentadora dos desfiles de alta costura francesa e famosa no mundo da moda quando conheceu o empresário Tony Mayrink Veiga, com quem se casou em 1956. Eles ficaram juntos por 60 anos, até a morte de Tony, em junho de 2016. O casal teve dois filhos, Antenor e Tereza Antônia, e cinco netos.

Tony e Carmen Mayrink Veiga formavam um dos casais mais elegantes da alta roda, chegando a ser considerados por Truman Capote, Diana Vreeland e Anna Wintour, na “Vogue” americana, “o casal mais chique da América do Sul”. Frequentadores do jet set internacional, participavam desde caçadas na África a festas com multimilionários de diversos países, além de receber personalidades globais em seu apartamento de mil metros quadros da Avenida Rui Barbosa, com vista deslumbrante para o Pão de Açúcar, para jantares regados a champanhe.

Carmen foi retratada por artistas como Cândido Portinari, Andy Warhol e Di Cavalcanti, além de ter sido fotografada por nomes como Francesco Scavullo, Richard Avedon e Mario Testino. O rosto da brasileira também aparece entre as caricaturas de Madonna, Demi Moore e outras celebridades internacionais no clipe da música “Imitation of life”, da banda R.E.M. Pouco antes do lançamento do vídeo, ela havia chamado a atenção ao, depois de comparecer a uma cerimônia do Oscar, levar mais de 20 minutos para sair de uma limousine devido ao tamanho do vestido que usava para o jantar oferecido por Demi Moore. Ela chegou ao evento ao lado de Madonna.

Presença constante nas listas das mulheres mais elegantes do Brasil, Carmen entrou para a seleta lista das pessoas mais bem vestidas do mundo da revista americana “Vanity Fair” em 1981. Também é a única brasileira citada na biografia oficial de Yves Saint Laurent – era uma das maiores colecionadoras de peças do estilista no mundo – e listada nos registros de clientes da alta costura de Paris desde jovem. Possuia mais de 400 vestidos de alta costura, uma coleção considerada rara pelos especialistas em arte e alta moda. Em 2003, 67 de seus vestidos foram expostos em uma mostra na Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa.

Em 1997, escreveu o livro “ABC de Carmen”, sobre etiqueta e estilo pessoal, e, em seguida, foi convidada para atualizar e comentar a versão para a América do Sul do “Livro Completo de Etiqueta de Amy Vanderbilt”.

Carmen sofria de paraparesia espástica tropical, condição que limitava seus movimentos. Em decorrência da doença, se locomovia em uma cadeira de rodas há quatro anos. Desde então, tornou-se uma ativista pela causa dos cadeirantes, conseguindo que rampas de acesso e outras facilidades indispensáveis para pessoas com deficiência e problemas de mobilidade fossem instaladas em hotéis de luxo, como o Copacabana Palace, restaurantes e edifícios históricos, como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que ganhou um elevador panorâmico específico para cadeirantes inaugurado por Carmen.

Falência e leilão

Na década de 90, o alto padrão de vida da família foi impactado pelo Plano Collor, quando a Casa Mayrink Veiga iniciou processo de falência. Fundada em 1864, a empresa representava armamentos para o Exército brasileiro, e, nos anos 1980, passou a ser também fabricante de armas.

Em 2007, cinco anos depois de decretada oficialmente a falência da empresa, o anúncio do leilão de bens da família para o pagamento de dívidas agitou o mercado de arte. Na ocasião, foram postos à venda um serviço de porcelana japonesa do século XVI, joias e quadros de Guignard, Milton Dacosta, Volpi, Di Cavalcanti, entre outros artistas de renome.

Em 2013, em um novo leilão, mais de 100 peças de arte e decoração foram arrematadas em São Paulo. No entanto, o item mais cobiçado da venda — o retrato de Carmem, pintado por Portinari em 1959 — não encontrou comprador e continuou com a família.

A família também foi proprietária da Rádio Mayrink Veiga, fechada após o golpe militar, em 1964.

Fonte: O Globo

Foto: Reprodução