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Sylvia de Castro

Por: Sylvia de Castro

Colaboração: Amaro Leandro

Ter ou não ter Carnaval, eis a questão que a sete meses de fevereiro está na cabeça de todos os foliões, especialmente das pessoas que fazem o maior espetáculo da terra. ACM Neto, prefeito de Salvador, disse que se não houver uma vacina até novembro não teremos elementos de segurança para manter o Carnaval. Outros afirmam que decisão em novembro inviabiliza as entidades carnavalescas de montar um bloco, quanto mais uma escola de samba, em dois meses. ACM propõe ação conjunta com Rio e São Paulo para adiar o Carnaval para maio ou junho. O governador de São Paulo, João Dória, acenou que concorda. Mas os organizadores das festas juninas já reclamaram, porque maio é mês de chuvas e junho de São João no Nordeste. A LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro – não gosta da ideia de adiamento e acha que só pode haver desfile se surgir uma vacina até setembro. Qual a sua opinião? Deve ser mantido, deve ser adiado, deve ser cancelado? Qual o tempo mínimo necessário para montar o desfile de uma escola ou bloco? Alguns preparativos já foram feitos? E as verbas? Haverá dinheiro para manter a festa?

Maria Augusta, carnavalesca – “Seguindo o calendário das estações climáticas, nosso Carnaval deveria ocorrer no mês de agosto. Creio que será uma ótima oportunidade para adotarmos nosso calendário real, para deixarmos de seguir o calendário de outro hemisfério e para adotarmos o calendário de nosso ritmo climático. Cá entre nós, as fogueiras são acesas no Hemisfério Norte para “chamar o Sol de volta”. Daí vem as origens das Festas do Fogo: para aquecer as pessoas no frio. Concordo que só devemos realizar o Carnaval com nossa população vacinada contra a Covid-19. Carnaval é sinônimo de aglomeração! O tempo necessário para construir um Carnaval depende do tamanho, tipo da agremiação e complexidade do projeto. Quantos componentes e fantasias? Quantas alegorias e adereços? Muitas escolas já anunciaram seu enredo para ‘o próximo’ Carnaval. Algumas lançaram os sambas concorrentes e estão acontecendo eliminatórias virtuais para escolha do melhor samba para o próximo desfile. Quanto às verbas necessárias para realizar o Carnaval, creio que teremos ainda mais dificuldades, além das habituais, devido à crise decorrente da pandemia. Creio que esse momento irá exigir de todos diminuir, enxugar e simplificar todo o visual das agremiações. Mais do que nunca, a criatividade será vital. Mas creio, também, que o Carnaval é indispensável e imortal.”

Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija Flor – “Priorizar a vida é o mais importante no momento. Sou a favor dessa precaução que as escolas de samba estão tomando. E como foliã, e tendo o papel importante que é a condução de um  Sagrado Pavilhão, no meu caso o da Beija Flor, penso muito nas pessoas, nos seres humanos. Tudo pode ser recomeçado, reconquistado. O vírus está vivo, existe, é um inimigo forte, mas existe Deus e a Ciência que irão nos ajudar a vencer este combate, porque não sabemos até quando ele vai existir no planeta. Vacina já, é a solução! Sou a favor de uma nova data para 2021, desde que não  se crie problemas com outras culturas. A precaução de nossos dirigentes está corretíssima. Queremos que todos se divirtam, mas com segurança. Outros também sofrem com amor às suas culturas… Mas, sem a vacina, impossível ver como tudo poderá ser realizado. Dois meses é muito pouco para se preparar esse que é o maior espetáculo da terra. Poderá haver um plano B, algo menor, quem sabe. Reciclar pode ser a palavra do momento. Mas como temos grandes experts e cabeça pensantes a solução será encontrada. Fico emocionada. O trauma está muito forte, o estrago será inesquecível, somos frágeis demais… As escolas sem verbas, o poder público em condições difíceis, a iniciativa privada também sofre. Será que vai poder contribuir? Apaixonada, e como porta-bandeira e sambista, rogo a Deus que ilumine a mente dos cientistas e que a vacina venha logo para podermos, então, pensar no próximo Carnaval.”

Jorge Castanheira, presidente da LIESA  – “Entendemos que ainda é precipitado falar alguma coisa sobre o destino do Carnaval 2021. Estamos aguardando o trabalho que vem sendo feito pelos cientistas e imaginamos que, até meados de setembro, teremos alguma vacina ou outra forma de imunização ou tratamento que permita que se tenha aglomeração. Não podemos nos antecipar à Ciência e aos órgãos governamentais, Prefeitura, Riotur e Governo Federal, que dão autorização para a realizaçao da festa. Só imaginamos ter o desfile em fevereiro se houver uma vacina, porque desfile de escola de samba traduz aglomeração. O futebol pode acontecer sem aglomeração, a Fórmula 1 também, mas o Carnaval não pode. Foi consenso entre todas as escolas o prazo de 15 de setembro para decidir. Depois disso fica complicado viabilizar a preparação do espetáculo no modelo que tem hoje. E nem conseguiríamos vender os ingressos ou gerar recursos. Da nossa parte, não pensamos em adiar para junho. Isso é o menos provável porque não  teríamos tempo de fazer um desfile em junho de 2021 e  outro em fevereiro de 2022. Não podemos nos precipitar. Temos que ter prudência e enxergar eticamente o sofrimento das pessoas que estão perdendo seus entes queridos e ainda sofrendo nos hospitais. A aglomeração nos barracões já é uma preocupação nossa, por isso estão funcionando com muito pouca gente, para que ninguém se exponha ao risco da contaminação. Qualquer plano ou modelo B ou C só poderá ser pensado se tiver segurança para quem vai desfilar ou assistir. Estamos refletindo e trocando ideias. Não vamos colocar os componentes nem o público em risco. Sem vacina, depois de setembro é eticamente improvável e tecnicamente muito difícil, porque a montagem requer tempo.”

Vera Tostes, museóloga, componente da ala das baianas da Unidos da Tijuca – “Difícil será a decisão sobre o Carnaval 2021. Particularmente, acho que deve acontecer. É importante para a Cidade não só para a alegria das pessoas, depois de um ano difícil como 2020, como para a economia. O desfile das escolas de samba é o maior espetáculo a céu aberto do mundo. Envolve um sério trabalho cheio de detalhes, emprega centenas de pessoas antes e durante os desfiles. Nos barracões, o trabalho é intenso em um ambiente fechado com pouca ventilação, o que pode comprometer as pessoas. Apesar de tudo, acho que tem que acontecer! Talvez em março ou abril o mais tardar, se não perderá o sentido. Não dá para se transferir para muito mais tarde que a data oficial, que está ligada à liturgia. Há sete anos eu desfilo na ala das baianas da Unidos da Tijuca e vou desfilar no próximo ano. Tenho certeza que, com a sua criatividade, os carnavalescos acharão uma proteção para todos os componentes. Peço a Deus que até lá já tenha uma vacina, para que todos possam se sentir protegidos e com muita alegria e responsabilidade realizar o maior espetáculo do mundo!”

Felipe Ferreira, professor da pós-graduação em História da Arte da Uerj, criador do Centro de Referência do Carnaval, membro do corpo de jurados do Prêmio Estandarte de Ouro do jornal O Globo e conselheiro do Museu do Samba – “Acredito que haverá Carnaval em 2021, pois o Carnaval não é apenas escola de samba. Mesmo com as declarações recentes da liga de blocos Sebastiana e da Banda de Ipanema, afirmando que não colocarão seus grupos na rua se não houver uma vacina, muitos foliões sairão às ruas em blocos improvisados, não-oficiais, nos dias de Carnaval. Quanto às escolas de samba, acho que a tendência é não desfilarem em 2021. A LIESA já declarou que vai aguardar até setembro para tomar uma decisão, mas não há possibilidade de até lá já haver uma vacina efetiva. Na minha opinião, as escolas estão perdendo uma grande oportunidade de se repensar, de propor alternativas para sua disputa. Tais alternativas poderiam contemplar apresentações virtuais, por exemplo. Ou pequenas apresentações que poderiam acontecer nos respectivos barracões. Com isso, não se romperia a cadeia produtiva e nem o elo das escolas com suas comunidades afetivas. Outra possibilidade seria a promoção de um grande debate (virtual ou presencial) reunindo criadores, atores e pensadores do Carnaval discutindo o futuro da festa. Difícil dizer o tempo mínimo para se montar um desfile, pois tudo depende do que se espera como resultado. Se pensarmos no modelo atual dos desfile do Grupo Especial (com cinco grandes alegorias, comissões de frente mirabolantes e 3.000 componentes), o prazo mínimo parece ser o de quatro a cinco meses. Mas as escolas dos grupos de acesso costumam preparar seus desfiles em três a quatro meses; algumas, até em um ou dois meses. Tudo depende do que se imagina como produto final. Quanto às verbas, acho que elas não vão existir, pois a Prefeitura parece cada vez menos interessada em colaborar e o dinheiro da venda de ingressos e dos direitos de transmissão são incertos. As escolas vão precisar do apoio de seus componentes e de algum eventual mecenas, como foi o caso, aliás, até às décadas de 1970/80. Mas acho que os blocos não-oficiais é que manterão vivo o Carnaval em 2021.”

Edmilson Lima, costume designer, que em 2021 completa 40 anos de trabalho dedicado ao Carnaval carioca – “O Carnaval é um evento enorme, que precisa de muito tempo para chegar ao desfile oficial. Isso requer muita pesquisa de Arte e História iniciada pelos carnavalescos. Até chegar nas mãos dos costureiros leva tempo. Durante esse período de quarentena, foram sendo criadas peças piloto – protótipos – por outra equipe ligada aos criadores de cada escola. Não vejo como adiar o evento porque, ao término, teríamos pouco tempo para criar o próximo. Somos todos a favor de uma vacina urgente. Somos otimistas, mas temos que pensar no número enorme de pessoas que envolve essa criação. E temos também que pensar no público que faz do Carnaval sua maior razão de diversão popular. A LIESA, órgão que organiza o evento, está ansiosa por uma vacina também, e resolveu aguardar até setembro para uma resposta definitiva se haverá ou não carnaval. Muitos preparativos já começaram. Afinal, carnaval não pára. Mas todos estão na mesma sintonia, aguardando pelo melhor possível.”

Cem anos de paixão

Com uma cabeça incrível – lembra tudo nos mínimos detalhes, vaidosa, saudável, feliz, ela é um fenômeno. Cearense, casou com maranhense e viveu muitos anos em São Luis. Teve dois filhos, Cecília e José de Ribamar, médico famoso. Atualmente, todos moram no Rio e foi no apartamento de Copacabana que comemorou seus 100 incríveis anos, apenas ela, a filha Cecília, a cuidadora, cercada de flores e mimos enviados pelos amigos. O telefone não parou de tocar um só minuto e as mensagens de carinho foram muitas. Padre Jorjão, seu grande amigo, apareceu de surpresa, todo paramentado e de máscara, para dar a comunhão para ela, na porta, com todos os cuidados. Adelinha Sabóia de Azevedo merece todas as homenagens pelo seu centenário! A festa foi adiada mas os convites já estão prontos para a comemoração em setembro, a rigor., como convém.

‘Nel blu dipinto di blu…’

Com Volare cantado pelo trio Il Volo, terminou o desfile da coleção Primavera 2021 de Dolce&Gabbana, na Semana Digital de Milão. Só que o desfile deles foi presencial, para 260 convidados mascarados e devidamente distanciados, ao ar livre, no campus universitário Humanitas, hospital milanês especializado em câncer, que a marca apóia há anos. A moda, mediterrânea, com muito volume em calças e blusas soltas e muitos tons de azul, se inspirou na arquitetura e design do hotel Parco dei Principi, de Sorrento. As estampas reproduzem os padrões da cerâmica e dos azulejos escolhidos pelo arquiteto Gio Ponti, em 1962, para o hotel design.

Segunda Musical

O projeto Segunda Musical, com o espetáculo “Breque Moderno”, reunindo Soraya Ravenle, Marcos Sacramento e Luis Filipe de Lima, na Sala Marília Pêra, no Leblon, teve mais de 200 espectadores. No final, Soraya fez debate cantando música de Billy Blanco para o desembargador Eduardo de Siqueira, que desacatou os guardas municipais em Santos.

“Não fala com pobre

Não dá mão a preto

Não carrega embrulho

Pra que tanta pose, doutor?

Pra que esse orgulho?…” 

Foto: Cristina Granato