Quem somos nós?
Será que realmente somos o que deveríamos ser?
Será que você se pensa como é?
Estas perguntas vieram ao meu pensamento, a partir de uma história muito original que um amigo me contou em São Paulo…
Fomos ao bairro de Pinheiros e ele estacionou o carro diante de uma loja de objetos e móveis muito fashion que me chamou os olhos…
Tudo extremamente interessante e original… Diante do interesse que demonstrei meu amigo me disse “Manoel, mais excêntrico do que estes objetos é o que vou contar de uma preferência do dono deste lugar.
Ele tem como estimação dentro desta loja um porco! O mais interessante é que ele o cria desde que o porco era bebê. É o seu bichinho de estimação…
O porco agora é enorme e passeia neste lugar com a maior desenvoltura… A questão é que o único animal que ele sempre teve contato são os cachorros que passam pela calçada, e alguns que entram na loja com seus donos”.
E o meu amigo continua, a me contar: “Manoel, o mais doido é que o porco diante dos cachorros, se comporta com uma alegria, abana o rabo e interage como se fosse um deles”.
Pensei na hora: O porco se pensa cachorro!
Apesar de todo o seu instinto natural codificado no DNA como um animal da sua espécie, a convivência restrita com os cachorros o fizeram mimificar os comportamentos dos caninos… Até o grunhido dele tem sotaque disse o meu amigo…
Um espanto!
Na hora comecei a pensar em nós seres humanos… Somos constituídos na nossa formação de um certo mimetismo… Aprendemos a falar o idioma materno por imitação de sons… O modo de comer, de agir socialmente e até os valores morais decorrem deste espelhamento…
Seríamos os mesmos se fossemos criados em outro país?
Uma pessoa seria o que é se fosse criada em outro núcleo familiar que não o seu?
Lógico que não…
Somos permeáveis a muitas coisas, que se enraízam em nosso inconsciente e formam o nosso modo de ser…
Penso na trajetória dos heróis da mitologia grega, que simbolizam nossas facetas e servem, para quem se identifica, como um modelo de ser…
Na verdade somos heróis de nossas trajetórias…
Os que vivem e existem na vida, são Aquiles, o herói grego que enfrenta os desafios apesar do seu ponto fraco que está no calcanhar. Apesar dos medos , inseguranças e as vezes uma auto imagem depreciada, ou seja apesar do calcanhar, uma pessoa sempre enfrenta alguns desafios… Com isso se espelha com o herói.
Quem está isento de medos? Medo de ser ferido no amor, medo de adoecer, medo do futuro, medo de acidentes, medo de tantas coisas e apesar dessas presenças no sentimento, as pessoas namoram, se casam, tem filhos, fazem escolhas e definem um modo de viver… Se somos modelados por imagens e idéias, qualquer um pode se modificar…
A grande pergunta que se deve fazer é: A pessoa que sou é favorável as minhas ambições?
Se a resposta for não, é hora de se repensar…
Somos seres fluidicos em nosso modo de ser… Traços desfavoráveis podem ser reformulados conscientemente.
Nada é definitivo em nossa personalidade. Quem tem lucidez desta questão, tem o maior comando que se pode ter na vida: O comando de si.
Não podemos comandar o destino, mas podemos nos constituir de traços que favoreçam o modo de se viver cada situação e pessoa que se apresenta.
Temos pontos frágeis, contudo podemos fazer oposições aos traços boicotadores da construção da vida que vale a pena ser vivida pelo modo inteligente de se viver diante de cada situação.
Coragem está longe de ser ausência de medo… Mas sim o contraponto a ele…
Aquiles com calcanhar.
Para isso não tem idade…
Nunca é cedo
Nunca é tarde…
Sempre é hora de começar e recomeçar.
Freud disse sabiamente “Somos feitos de carne , mas temos que viver com se fossemos de ferro”.
Com qual raça canina será que o porco se identifica? Um poodle, um doberman?
Acho que se perguntássemos talvez, ele nos responda… Afinal além dos cães, ele só conviveu com os humanos… Num granhido humanizado talvez ele nos diga…
Uma coisa é certa…Você pode se responder sempre.
Pode fazer uma escolha.
Manoel Thomaz Carneiro é professor e psicanalista, idealizador do Grupo de Estudos Pensar, fundado há 29 anos. Autor do livro “Pense Bem – ideias para reinventar a vida” (Casa da Palavra), é considerado um Pensador por pessoas de todas as idades, pessoas mais comuns, menos comuns, buscando crescimento pessoal e mais alegria.
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